Mt. 11:27 “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece plenamente o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece plenamente o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. 28 Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. 29 Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. 30 Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo e leve.”
Ao longo dos anos da vida da Igreja, este tem sido um texto muito utilizado para a evangelização. De fato, ele é muito pertinente, mas veja que Jesus o direcionou a todos e não somente aos descrentes. Nada impede que o utilizemos a este público ainda nos dias de hoje, mas quero abordá-lo de uma maneira diferente que, eu espero, abra um pouco mais os seus olhos com respeito ao amor do Pai por nós, revelado na pessoa de Jesus.
Já temos dito que Deus, desde que criou os seres viventes, nos criou com o desejo de relacionar-se conosco. Ele é um ser pessoal e por isso mesmo deseja relacionar-se com outras pessoas. Ele desejou ter uma grande família, de muitos filhos, semelhantes a Jesus para a Sua glória. E esta família foi criada para relacionar-se com Ele. Porém, a queda do homem o afastou do seu Criador que, apesar de não poder compactuar com o pecado, jamais desistiu do seu desejo inicial de ser uma família com o homem, ainda que o pecado tenha representado uma violência contra a Sua Santidade. Deus amou o homem, desceu até à sua baixeza e demonstrou este amor quando, num ato que apontava para a cruz, sacrificou um animal inocente para cobrir o pecado e a vergonha que ele trouxera. Durante toda a trajetória da humanidade descrita na Bíblia, veremos Deus trabalhando para que o homem se reconcilie com Ele. É como um pai amoroso caminhando atrás do seu filho desobediente no intuito de reaproximá-lo outra vez. Então Jesus entra no tempo, assume a forma humana e se oferece em sacrifício eterno a Deus Pai a nosso favor, nos chamando mais uma vez à reconciliação com o nosso Pai. Ele desce do céu e vive entre nós para nos revelar, através de Sua própria vida, o grande amor do Pai. “e ninguém conhece plenamente o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece plenamente o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.” Mt. 11: 27. E é nesse exato contexto que Ele nos faz esse convite tremendo que lemos no Evangelho de Mateus, capítulo onze e versículos vinte e oito a trinta. Um convite para um relacionamento profundo, que se revela em três níveis como descrevo abaixo:
1 – Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados
Jesus não disse que deveríamos procurar nossos conselheiros, ou nossos líderes, nem ainda os nossos pastores quando estivéssemos cansados e sobrecarregados. Mas, Ele disse: “vinde a mim”! Jesus está nos chamando para irmos à fonte de onde realmente fluem as soluções para todas as nossas dificuldades. Ele é a fonte de onde flui todo o amor de Deus para as nossas vidas. É Dele que vem o suprimento para todas as nossas dificuldades. Então, quando Ele diz: “vinde a mim!” Ele está declarando que Ele quer nos prover, Ele deseja nos suprir, Ele almeja estar perto de nós. Ele está nos trazendo à memória que no dia em que O conhecemos, estávamos necessitados, estávamos sobrecarregados, estávamos desolados e quando nos aproximamos Dele, Ele nos trouxe refrigério, alegria, paz. Talvez porque o nosso dia a dia tão cheio de ativismo nos tenha afastado daqueles dias em que não abríamos mão de estarmos bem junto Dele. Nosso único desejo era estar aos pés da cruz. Nosso coração ardia cada vez que pensávamos na preciosidade daquele sacrifício que nos trouxe a paz. Os momentos em que participávamos da ceia eram como se estivéssemos diante do próprio Jesus, sendo ministrados por Ele e celebrando a ressurreição com Ele. Quando saíamos às ruas, hospitais, presídios, orfanatos, creches para evangelizar, fazíamo-lo com tamanha alegria que era impossível aos que nos ouviam ficar apáticos à mensagem que pregávamos. Poderíamos pregar a uma só pessoa ou a uma multidão, o fervor era o mesmo, a alegria era a mesma e poderíamos fazê-lo por horas porque o nosso coração estava aquecido pela Sua gloriosa presença. Mas, o dia a dia vai tomando espaço. As atividades começam a tornar-se muito importantes para nós. Não significa que deixamos de amá-Lo, apenas passamos a considerar certas coisas “mais importantes” que o desfrutar de Sua presença. Nem sempre oramos antes de sairmos do nosso quarto pela manhã, às vezes nos esquecemos de dar graças pelas refeições, a leitura da Palavra já não nos prende tanto e começamos a esfriar. E quando percebemos a nossa frieza espiritual já nos encontramos cansados e sobrecarregados. Lutar contra o pecado já se tornou em um esforço grande demais e muitas vezes caímos tão facilmente diante de inimigos que nem mesmo considerávamos no princípio. Orar é um trabalho que exige muito de nós, já deixou de ser aquele momento deleitoso na presença do Pai com o nosso irmão mais velho Jesus. Adorar é algo extravagante demais para ser feito em qualquer lugar em que estejamos. Isso é “coisa de novo convertido apaixonado”. Mas a verdade é que estamos longe Dele e por isso os céus parecem intransponíveis e essa guerra para permanecer em Sua presença tornou-se aparentemente impossível de se ganhar. Mas Jesus está dizendo: “vinde a mim!” Ele só deseja que procuremos a pessoa certa que é Ele mesmo. Ele só espera que voltemos à fortaleza de esperança ( Zc. 9: 12 ) para sermos restituídos à comunhão com Ele. Ele só deseja que retornemos ao lugar onde O deixamos por outros amantes. Ele só quer ser o primeiro no nosso coração para que possa ocupá-lo completamente e encher-nos outra vez com a mesma alegria do início da caminhada em Sua presença. Ele promete: “eu vos aliviarei”.
2 – Tomai sobre vós o meu jugo
Apenas para simplificar o entendimento dessa expressão, gostaria de levá-lo ao ambiente de uma fazenda onde dois bois trabalham juntos puxando um arado. Isso é coisa muito antiga e talvez muita gente não faça idéia do que seja. Bem, para que dois bois trabalhem juntos puxando um arado, é necessário que se coloque sobre o pescoço deles um pedaço de pau de tamanho suficiente para que os mantenha andando próximos um do outro. Esse pedaço de pau é atravessado em sua parte superior por quatro pedaços menores de pau que vão se encaixar no pescoço de cada um dos dois bois. Um pequeno pedaço de corda prende pela parte de baixo os dois pedaços de pau de tal forma que os bois são obrigados a andar juntos enquanto estiverem presos àquele pau. Esse conjunto de pedaços de pau é chamado de canga e canzil. É exatamente o que a Bíblia chama de jugo. Ele tem que ter a medida certa para permitir que os bois andem juntos, porque se estiverem fora das medidas, em jugo desigual, um deles pode não suportar o peso e pode se machucar ou até mesmo quebrar o pescoço e morrer.
Quando Jesus diz: “tomai sobre vós o meu jugo”, Ele está se colocando em uma posição de igualdade em relação a nós. Ele está declarando que assim como nós, Ele também viveu nesse mundo como homem, porém “aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” ( Hb. 5: 8 ) e é diante de Deus “varão aprovado” ( At. 2: 22 – 24 ). Portanto, quando diz: “tomai sobre vós o meu jugo”, Ele tem autoridade para dizer que nós podemos andar junto Dele, não precisamos ter medo de morrer pelo fato do jugo estar fora das medidas, porque é Ele quem estabelece as medidas do jugo. Quando olha para nós, Ele olha com olhos de misericórdia e a Sua graça nos alcança. Na verdade Ele está dizendo mansa e suavemente: “ande comigo! Vamos caminhar juntos! Deixe-me ficar ao seu lado e manifestar minha presença a você!” Ele quer andar junto com você e comigo e de vez em quando olhar nos nossos olhos, e com toda misericórdia e amor nos estimular a continuar caminhando ao encontro do Pai. Ele quer que continuemos andando e olhando com os olhos fixos nEle, o “autor e consumador da nossa fé” ( Hb. 12: 2 ). Querido irmão, O jugo que Ele deseja que levemos é a cruz! A cruz nos iguala, a cruz nos nivela, a cruz nos reconcilia com o Pai, carregar a cruz define a nossa posição e identidade de discípulos de Cristo ( Mt. 16: 24 ). É interessante observar que quando olhamos para uma junta de bois puxando um arado, o jugo e o eixo que os prende ao arado formam uma cruz.
Quando Jesus diz: “tomai sobre vós o meu jugo”, Ele está nos dizendo: tome a sua cruz.
3 – Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração
Este é o terceiro nível de relacionamento para o qual Jesus nos convida. Nossa cultura ocidental não nos permite visualizar com clareza a realidade do discipulado aos moldes de Jesus. O discípulo andava com o seu mestre todo o tempo. Eles não se encontravam casualmente como nós aqui no Brasil fazemos com aqueles que consideramos estar discipulando. O mestre e o discípulo faziam coisas juntos, comiam juntos, trabalhavam juntos, estudavam juntos, enfim, tinham muitas atividades juntos durante o dia. Para aprender com um mestre, o discípulo precisava estar junto com ele. Porque o aprendizado era para a vida e não para algumas situações apenas. Por isso é que Jesus declarou no Evangelho de Lucas 14: 26 que aquele que quisesse ser discípulo teria que aborrecer pai, mãe, esposa, filhos, irmãos e irmãs e até a própria vida e segui-Lo, caso contrário não poderia ser Seu discípulo. Então, quando Jesus diz: “aprendei de mim” Ele está chamando para uma convivência diária com Ele para um aprendizado profundo em Sua presença. Só podemos aprender a ser mansos com Ele, não há outra escola melhor.
Quem quer abrir mão dos próprios direitos para que outro ganhe a causa? Quem quer abrir mão de tudo o que pensa para que outro tenha razão? Quem quer abrir mão de todos os seus métodos para que o método de outro tenha primazia? Quem quer abrir mão das próprias idéias para que a idéia de outro tenha lugar? Quem se dispõe a ser acusado sem se defender? A escola de Jesus trabalha com um nível alto de exigência. Ser manso não significa ser “bobo” no sentido mais literal da palavra. Ser manso significa abrir mão do seu direito, da sua posição, da sua “razão”. Significa não ter direito, não ter posição, não ser o dono da razão, não ter a última palavra, não se defender. Apenas a respeito de um homem a Bíblia diz ser o mais manso sobre a terra, Moisés. Ele nos dá um bom exemplo de mansidão ( Nm. 12: 1 – 15 ). Porém, mais tarde o veremos ferindo a rocha à qual deveria apenas falar. Quando, entretanto, olhamos para Jesus, veremos o Criador submetendo-se à criatura, veremos um mestre se colocando na posição de aprendiz perante os doutores da Lei, veremos um sacerdote sendo batizado, veremos um homem que não tinha motivos para ser acusado recebendo as mais sérias acusações sem se defender, veremos um Rei se submetendo ao poder temporal, veremos um Juiz recebendo contra si uma sentença de morte por crucificação. Por isso “Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.” ( Fp. 2: 9 – 11 )
Não diga jamais em seu coração: ah! Mas Ele era Jesus não é? O Filho do Deus vivo. Sim, Ele é Jesus, o Filho do Deus vivo. Mas foi perfeitamente homem enquanto esteve vivendo entre os homens e sendo chamado de Filho do homem. Senão o escritor aos hebreus não reafirmaria o sacerdócio de Jesus segundo a ordem de Melquisedeque ( Hb. 5: 1 – 10 ), estabelecendo por padrão que o sacerdote pode “compadecer-se devidamente dos ignorantes e errados, porquanto também ele mesmo está rodeado de fraqueza.”
Seria redundância dizer que temos muito que aprender com Jesus, mas Ele mesmo nos convida: “aprendei de mim”. O ensino de Jesus traz descanso para as nossas almas. Que outro ensino traz descanso para as nossas almas? Jesus está dizendo que andar com Ele, aprender ao lado Dele, trará descanso para nós. Que preciosidade! Por isso é que o apóstolo Paulo afirma: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor? ou quem se fez seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.” ( Rm. 11: 33 – 36 ) Este apóstolo, não sabe se no corpo ou fora do corpo, “esteve no terceiro céu, no paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir”. ( 2Co. 12: 2 – 4 ) Ele vivenciou o “aprendei de mim” literalmente em seu corpo espiritual. Ele foi instruído espiritualmente nos lugares celestiais e hoje somos enriquecidos através das palavras do seu testemunho. A presença do Senhor ensina, o unção do Senhor ensina ( 1Jo. 2: 27 ). Não temos que pedir ao Senhor que nos leve ao terceiro céu ou ao paraíso. Precisamos simplesmente buscar a Sua presença e receber a unção que nos ensina. Os livros são bons, há autores realmente consagrados e devemos ler livros instrutivos, preferencialmente aqueles que nos são indicados pelos nossos líderes, mas nada substitui o ensino na Presença de Jesus!
Preciso correr para Ele, para a Sua presença gloriosa e aprender Dele. Ele tem muito para me ensinar e eu nada sei. Preciso parar de me debater com as minhas próprias dúvidas, preciso parar de definir meus próprios conceitos como sendo os melhores, preciso abrir mão daquilo que penso que sei, daquilo que afirmo que sei, preciso parar de correr atrás daquilo que dizem ser o certo, preciso dar descanso à minha alma em Sua presença. Preciso permitir que Ele unja a minha cabeça com óleo e que a Sua unção me ensine.
Querido, oro para que você seja alcançado por esta palavra. Oro para que “o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele; sendo iluminados os olhos do vosso coração, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos, e qual a suprema grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder” ( Ef. 1: 17 – 19 ).
Venha a Ele e receba alívio, tome sobre você o jugo Dele, ande com Ele, aprenda Dele como ser dependente do Pai e encontre descanso para a sua alma. Porque o jugo Dele é suave e o fardo Dele é leve.
Deus o abençoe em Cristo.